O professor Pedro não se foi

Claro que eu não poderia deixar de falar deste assunto, que pode ser tudo, menos uma partida. Há quem nunca se vá e quanto ao professor Pedro Aparecido Thomaz Pereira é exatamente assim. Ele ficou e estará sempre por aqui, toda vez que a gente olhar para qualquer um dos lugares que a nossa geração conhece a história graças as suas pesquisas.

O “memorialista da nossa terra”, como o chamei no prefácio do seu tão sonhado livro: “Rosário da saudade e outras histórias de Juquery/Mairiporã”, ficou em todos que como eu são apaixonados por essa terra, a nossa vila, a sua vila Mestre! Terra de loucos, dos tijolos e nas memórias que escreveu e que contou com orgulho todas as vezes que teve oportunidade de fazer da história deste pedaço de chão, a matéria prima que fazia seus olhos brilharem. Quem tanto amou nunca permitiremos que nos deixe, posto que está eternizado em sua obra e em seu legado.

Tive a oportunidade de contar ao professor sobre minhas primeiras lembranças, quando na escola Hermelina popularizou a biblioteca Pe. Anchieta e a garotada da minha geração pegou gosto pela leitura nas páginas da coleção vagalume das prateleiras do nosso colégio. Levava para sala de aula um rádio com toca fitas e nas canções as letras de um tal “Vinicius de Moraes” que eu conheci pela sua boca e pelo seu aparelho sonoro e que bem cedo trouxe para a minha alma esse gosto pela poesia.

Ao telefone lembramos disso e dizia ‘meu aluno Luisinho virou poeta!’ Pobre de mim, apenas escritor de uns versinhos. Que eu pudesse rimar algo hoje a altura da sua importância!

Quero lembrar aqui da nossa foto juntos em 1995 e que tanto gostava. Eu era somente um garoto e me recordo de cruzar a praça Bento Oliveira às dezoito horas! A hora do Angelus, do toque das ave-marias que relembra na fé católica o momento em que o Anjo Gabriel anunciou a Maria imaculada que conceberia do Espírito Santo.

Seguimos pela Rua XV até a capela do Rosário. Eu, devidamente uniformizado com a calça azul que trazia uma listra vermelha fina de um lado e de outro. Junto com a ela o alvo da camiseta branca e a coruja do lado esquerdo do peito, onde batia o coração de um aluno seu segurando um papelzinho onde estavam alguns versos que eu guardara para decorar e recitar.

Ao meu lado, o professor Pedro ia ao megafone contando as histórias e apontando os lugares. A cada parada um novo ponto era ressuscitado pela sua voz falando das raízes de Mairiporã.

Pois é! De lá para cá vão quase três décadas e tivemos muitos outros momentos. Pude participar contigo da realização do seu sonho de publicar um livro. De idealizar os detalhes da página, da diagramação, da digitação e ter a honra de escrever o prefácio daquela que sem dúvida sempre será a mais bela e mais importante obra que reúne os fatos históricos da nossa cidade.

Que privilégio professor! Os notáveis nunca se vão e Pedro Thomaz está para a cidade, como a própria cidade está para a serra da Cantareira: incrustado. Minha reverência ao Mestre, suas lembranças, memórias e sua presença!

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”