Leais e os traiçoeiros

Em política, embora as surpresas ocorram principalmente em períodos eleitorais, nada mais parece surpreender o cidadão/eleitor, que ao longo das últimas quatro décadas, pelo menos, já viu de tudo. Ou quase tudo.

Quando as eleições se aproximam, o cardápio servido é o da traição, que expõe o lado mais abjeto e sujo de acordos feitos geralmente na calada da noite e bem distante dos olhos do cidadão. Adversários ontem, e em alguns casos até inimigos, hoje são companheiros de jornada, soldados em luta pelo mesmo propósito.

Essa deslealdade, em muitos casos, é até positiva, pois expõe de maneira incontestável os políticos que o eleitor já sabe que não pode e não deve confiar o seu voto. Neste caso, em especial, os traidores oferecem a vacina da democracia, ou seja, inspira as pessoas a conhecer antecipadamente com quem estão lidando.

Na história política de Mairiporã são centenas de casos de traições que evidenciam o único interesse dos políticos e candidatos, ou seja, conquistar uma vaga eletiva e dar uma ‘banana’ aos desavisados que lhes confiaram o voto. Dezenas e dezenas de políticos, por ironia do destino e do voto dos incautos, conquistaram vaga na Câmara de Vereadores e, diferentemente do discurso de representatividade, procuraram arrumar a vida pessoal e de seus familiares.

Uma dica importante, já que a palavra é o único ativo do político na relação com quem vota, é estar atento ao discurso. Se deixou dúvida, ainda que pequena, é melhor procurar outras opções. Pouquíssimos são plenamente confiáveis, não honram compromissos, infiéis à honestidade e retidão moral.

Por outro lado, há sim líderes políticos que uma vez no poder, são leais às promessas de campanha, íntegros e respeitam a convicção depositada pelos eleitores. Em outras palavras, cumprem o que prometeram. Manter a palavra empenhada, mesmo que em momentos difíceis, indica responsabilidade e sinceridade do político. E é exatamente esse comportamento que fortalece a relação entre eleitor e eleito e contribui para a estabilidade do governo, administrativamente falando.

Mairiporã registra em sua história eleitoral episódios que levaram os eleitores ao arrependimento. Isso, no entanto, tem prazo de validade, ou seja, quatro anos para nova oportunidade de extirpar os espertalhões, os desleais.

Lealdade em política é um ativo valioso que o cidadão não pode desprezar sob quais forem as circunstâncias.

Em 2024 deveremos ter políticos jovens em busca de uma carreira na política. A eles, a esperança de que percorram caminhos inversos a outros que também em eleições passadas eram neófitos e preferiram trilhar atalhos do que o caminho da palavra dada, flecha lançada.

E nunca é demais citar a frase do poeta Samuel Ranner: “A máscara dos traiçoeiros cai perante a verdade. Mas o rosto dos leais brilham como o sol da Justiça!”