O Federal Reserve (FED), o Banco Central dos EUA, tem dois mandatos legais: 1) manutenção da meta de 2% para a inflação, consistente com a maior estabilidade possível dos preços em longo prazo; 2) auxiliar a manter o maior nível de emprego possível (uma taxa de desemprego não explícita, mas em torno de 5%).
Desse ponto de vista, o trabalho da ilustre economista Janet Yellen, presidente do FED de 2013 a 2017, foi primoroso. Termina 2017 com crescimento do PIB da ordem de 2,2%, taxa de inflação menor do que 2% e taxa de desemprego ligeiramente superior a 4%. A bem da verdade é preciso dizer que ela não enfrentou nenhum estresse importante, mas teve o mérito de não se meter em nenhuma aventura.
Há mais de 80 anos existe uma tradição. O presidente do FED é reconduzido pelo menos uma vez, mesmo quando o antecessor (que o nomeou) e o sucessor (que vai confirmá-lo ou não) são de partidos diferentes (democrata ou republicano). Negar a Yellen um segundo termo parece estranho, até porque, no terceiro trimestre, a economia americana cresceu (anualizada) 3% e a taxa de inflação foi de 2%.
O substituto escolhido por Trump é um conhecido advogado que se tornou bem-sucedido banqueiro. Jerome Powell, com 64 anos, é católico com rigorosa formação jesuítica e serve no Board do FED há cinco anos, nomeado pelo antecessor Obama. Trabalhou no Tesouro americano na administração de George Bush (1989-1993) e vivenciou o colapso do gigante Bank of New England e a confusão do Salomon Brothers com os títulos do Tesouro.
Seus votos no Board normalmente acompanhavam os de Yellen. A direção do FED, entretanto, depende ainda da nomeação para outras três vagas, inclusive o seu vice-presidente, porque, depois de Powell e de Jeremy Stein (2012), Obama não conseguiu aprovar no Senado nenhum outro membro para o Board do FED.
De qualquer forma, a falta de respeito de Trump à tradição e sua insistência na expansão fiscal devem significar alguma coisa: uma possível redução, de fato, da famosa “independência” política do FED.
Nas últimas semanas temos assistido a vários movimentos que sugerem a antecipação de uma alta mais robusta da taxa de juros americana.
Primeiro, o rápido desmonte dos operadores nas posições com o dólar, que levou à desvalorização das moedas dos emergentes (o dólar chegou a R$ 3,30). Em segundo lugar, a divergência entre a Câmara e o Senado americanos parece que atrasará a reforma fiscal de Trump para 2019, aumentando as incertezas que já se refletiram no preço das ações na bolsa de Nova York. As “trumpalhadas” podem terminar comprometendo o saudável panorama econômico mundial…