Cinco vezes Beatriz

No dia dos namorados não tem como deixar de falar do amor. Artur da Távola certa vez escreveu que não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor. E o nosso Valentine´s Day é mesmo mais romântico que no restante do mundo. Somos um povo mais intenso e eu gosto sim de falar do amor. Detesto gente azeda. Já é tudo tão difícil e longe de mim colecionar cheque devolvido e fazer quadro na parede.

Beatriz – a minha – também é como Agnes que veio se equilibrando para me colocar em pé. O circo místico da minha vida estava desenhado com a sua chegada, que guardou traços de um enredo desses que desconcerta a plateia. Estarrecido se era triste ou se pintura; logo notei que dançava no sétimo céu como a musa de Dante e quis entrar na sua vida. Já são cinco dias dos namorados e eu naturalmente vou reinventando sua face de louça e de éter, sem me preocupar, já que sei que para sempre é sempre por um triz.

Perigoso mesmo é a gente ser feliz. Logo alguém lança um olhar de desconfiança. Conheço os dois lados, já andei pelas duas estradas. Asseguro, deste lado é melhor para se viver. Quando se forma um par é bom demais. Fica bonito de olhar a vida pela cerca, vendo seu jardim florido com os olhos abobalhados. Parece que tirei férias de mim mesmo, quando segurei a sua mão e fui em frente.

Cinco anos juntos no dia dos namorados hoje em dia já é considerável marca e estou feliz de chegar tão longe. Com os anos, o amor vai ficando mais humano e diria mais verdadeiro. A gente vai deixando de lado os excessos e o que vai ficando são as boas marcas do que cultivamos um do outro. As riquezas que parecia que eu não tinha, ela percebeu. A intimidade vai derrubando as máscaras e os afetos criam a raiz que precisamos para se renovar e para se reinventar. E isso não tem relação com a idade ou com a diferença na data de nascimento.

Só quem perdoou na vida sabe o que é amar e o amor que é amor, já provou alguma dor. Se você tem um amor todinho seu, fale dele e para ele o quanto é importante, mesmo que nessa semana não tenha feito por merecer. Bobagem a mania de fingir, negando a intenção. Vale a pena fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.

 

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb