Os mornos que me cansam

Pena de gente que passa a vida desperdiçando a vida. Perde tempo fingindo, vigiando e sendo hipócrita. Todos possuem lá suas incoerências e conviver com a verdade absoluta não é tarefa fácil, mas vale a pena. Tão frágeis que somos. Como diz minha mãe: “para morrer basta estar vivo”. Não sei se quando eu me for morrerei professor, orador, escritor ou piloto. Verdade! Quem sabe eu ainda passe voando por aí antes do último suspiro. Entre o primeiro e o último, um piscar de olhos entre duas eternidades.

Fato é que vai ser legal poder ficar em alguém mesmo tendo ido embora. Ser mais importante que famoso vai fazer com que eu possa ir animado quando chegar a minha vez. Estou aprendendo que tempo é só questão de prioridade e quem nunca tem para me oferecer, não merece caminhar comigo.

Viver de um jeito medíocre se preocupando em uma posição que permita pisar mais, mandar mais e gastar mais comprando o que não precisa com dinheiro que não tem para mostrar a quem não gosta. Outro dia vi alguém comentar sobre as últimas palavras que são ditas em fases terminais nos leitos de hospital. Ninguém pede ao médico mais um dia de vida para que tenha tempo de humilhar mais alguém, fechar um bom negócio ou comprar mais um carro.

Ao contrário, é comum que o paciente implore por mais uma hora, para que possa abraçar um irmão depois de não terem conversado por anos, ou pedir perdão a alguém que nunca achou que merecia.

Os mais ou menos que me desculpem, mas quero mesmo é percorrer esse caminho sem idealizar o final, se preocupando em amar as pessoas reais. Pagar o preço de se decepcionar, de ser traído, de separar homens de meninos e mesmo assim conseguir ir em frente. Olhar os canalhas cabisbaixos dando sempre um jeitinho de garantir suas migalhas, na certeza de que cedo ou tarde, Deus colocará tudo no lugar e vomitará os mornos.

 

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb