Há em todo o Brasil, mas principalmente em Mairiporã, uma combinação perversa e perigosa que cobre 70% de todo o seu território: a falta saneamento básico e de água potável. Unida à falta de alimentação adequada, essas famílias vivem situação tão ou mais letal que o coronavírus. Como as autoridades pouco ou nunca se importam com o saneamento básico em Mairiporã, esse problema se tornou corriqueiro e nenhuma ação é feita no sentido de acabar ou pelo menos minorá-lo.
Os três governos do atual prefeito e também de seus antecessores, nada fizeram para modificar esse quadro. A cidade, quando muito, registra 30% de rede coletora de esgoto e nem 1% de estação de tratamento desses resíduos. Em centenas de bairros o esgoto corre a céu aberto, poluindo córregos, riachos e rios, canais rápidos para a transmissão de doenças.
O distrito de Terra Preta é um ‘modelo’ de como não administrar uma cidade: com mais de 30 mil habitantes, não tem um metro, um mísero metro de rede de esgoto. Mas prefeitos e vereadores seguem falando em asfalto e concretagem.
Evidenciou-se, durante mais de 30 anos, que a Saúde é problema menor das nossas autoridades. Aqui privilegia-se a medicina curativa em detrimento da preventiva. É melhor, na visão estreita dos governantes, gastar dinheiro com consultas, exames e remédios, do que dotar as comunidades de rede de esgoto e água potável.
Se a Sabesp tem grande parcela de responsabilidade nesse processo, e tem, porque está em Mairiporã há 40 anos e finge-se de morta quando o assunto é investimento, prefeitos e vereadores contribuiram para esse descaso, ao permitir que a empresa concessionária fizesse o que bem entendesse, como fez e segue fazendo, inclusive em um largo período sem contrato.
O coronavírus é uma doença que hora ou outra vai ser debelada. Assim como outras enfermidades cujos vírus nunca foram cobrados de quem os fabricou. A inexistência de saneamento básico, no entanto, ao menos em Mairiporã, mata muita gente, e continua matando indefinidamente, com o diferencial de que não tem destaque na mídia e muito menos boletins estatísticos. Nem aparece no Jornal Nacional com a escandalosa cobertura que o coronavírus tem.
É claro como a luz do dia que a falta de saneamento básico mata mais que o coronavírus e que prefeito e vereadores, agora travestidos de paladinos e mocinhos de cinema em busca de mídia como baluartes na luta contra o coronavírus, não dão a mínima ao problema.
E a conclusão é uma só: saneamento não dá mídia, não dá voto. Mas mata como nenhuma outra pandemia.