Olhando de cima do muro

Neste período eleitoral tenho prestado atenção a um tipo específico de cidadão. O que prefere não emitir suas opiniões. Não se manifesta em direção alguma, embora viva pendurado em algum político pedindo favorzinho. Vira e mexe, pede e reclama. Reclama dos políticos, da cidade, do país e do sistema, mas não perde a chance de se beneficiar do poder das canetas quanto se trata de conseguir algo que interesse apenas a si próprio.

Deve achar cômodo ficar em cima do muro e não se expor para que independente de quem seja o vencedor, continue dando o jeitinho que lhe é tão útil em alguns momentos.

Em cima do muro observam as lutas sendo travadas sem demonstrar a cor de sua bandeira, muito provavelmente paralisados por um sentimento egoísta. Até mesmo receio de receber alguma crítica e ficar sem argumentos.

Prestando atenção às redes sociais, é quase inacreditável ver um ou outro nessa posição confortável do não posicionamento. Se a tecnologia não reservasse a chance de registrar as conversas, alguém não acreditaria no submundo das mensagens instantâneas que resguardam os segredos obscuros do eleitorado “neutro”, que se beneficia muitas vezes diretamente no bolso, o fato de ser amiguinho de um político no exercício do mandato que possa atender suas vontades.

Não dói nada possuir três ou quatro contatinhos, já que um não sabe do outro. Parece o conto do caixeiro viajante, deixando uma esposa em cada cidade.

Se você perguntar, vai dizer que não gosta de política ou mencionar frases hipócritas do tipo: “Não falo nada, pois não vale a pena brigar por causa de política”.

Prefiro pessoas de opinião formada, clara, e que gostam de dialogar principalmente com opiniões contrárias. Assim há sempre a oportunidade de reforçar ainda mais um posicionamento, ou então mudar de ideia; o que nunca deveria ser um problema. Tem medo do outro aquele que não sabe quem é.

Pouco mais de um mês e as redes sociais terão o dobro dos apoiadores que o vencedor teve nas urnas. E quem engorda a conta, são esses: os de cima do muro que não perderão a chance de parabenizar os eleitos. Afinal, vencida a batalha, hora de fazer festa com os vencedores e sair na foto.

 

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb