Boca fechada

Não é de hoje que a sociedade mairiporanense percebe o pouco interesse dos vereadores em determinados assuntos. A principal função, que é a de fiscalizar o que ocorre no município, não só o Executivo, mas também tudo o que diz respeito à coisa pública, seja municipal, estadual ou federal, parece ignorada.
A questão do meio ambiente, por exemplo, envolve, dentre outros, os interesses corporativos. Projetos são aprovados, suspeitos ou não de irregularidades, que prosperam aos olhos de todos, sem quaisquer questionamentos. Nos últimos dez ou quinze anos, este semanário tem denunciado agressões ao meio ambiente, principalmente por parte da Sabesp.
Nem Prefeitura, nem Câmara de Vereadores e nem o Ministério Público se mostraram, até aqui, preocupados com a situação. Mairiporã não tem 40% de rede de coleta de resíduos sólidos (esgoto), o que dá como única alternativa o despejo dos dejetos nos mananciais da cidade, que é considerada de proteção ao meio ambiente, onde se inclui 80% do seu território e que tem uma das represas do Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de mais de 7 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo.
O pouco que se defende o meio ambiente só acontece depois da ‘porta arrombada’, favorecida pela leniência das autoridades e conivência de servidores públicos.
É espantoso o desinteresse dos vereadores em fiscalizar, cobrar e denunciar a Sabesp. Quando isso ocorre, como fez o vereador Valdeci América na sessão legislativa da semana retrasada, fica restrito ao discurso, nada mais.
Se houvesse disposição e interesse em melhorar as condições de vida do povo na questão do saneamento básico, o caminho seria o Judiciário. Esperar que o prefeito o faça é acreditar em contos da carochinha. O prefeito é tucano, assim como o governo do Estado, que controla a Sabesp. Se em seu segundo mandato nada fez, quando a Sabesp passou a operar sem contrato, o que dirá agora.
Pior que discursos hipócritas e cobranças só para ‘inglês ver’, é ficar como estiveram até hoje os vereadores: de boca fechada e longe daquilo que se chama de ‘representatividade popular’.